20.1.09

Dor.

Toca o telefone e junto dele vem àquela notícia que não queremos nunca ouvir.
Uma vida que com um motivo ou sem motivo deixou de existir.
A reação é estranha. A sensação é horrível. As lembranças imediatamente voltam à memória como se tudo tivesse acontecido ali, agora, naquele instante. A vontade de gritar para ver se aquela insuportável dor passa é grande. Nada adianta. O choro ajuda a colocar uma pequena, quase que invisível parte da insuportável dor para fora.
Uma grande mulher, forte, guerreira que com sacrifício/amor, dificuldade/carinho, alegria/tristeza, pobreza/empenho deu origem a uma linda família.
A primeira lembrança que tenho é dos Natais. Quantos Natais! Os netos correndo pela casa visivelmente grande para o nosso tamanho, o muro baixo serviam de banco e encosto para os mais velhos, na sala o chão de madeira, que com seu barulho, denunciava a correria dos pequenos.
No quintal havia um pé de rosas, pobrezinho de quem colocasse o dedinho, mesmo que fosse para sentir o veludo das pétalas, no fundo a diversão era em volta de um pé de goiaba onde por inúmeras vezes me arrisquei a chegar ao ponto mais alto, mesmo correndo o risco de levar sérias broncas. Comíamos a fruta ali mesmo, com os pés descalços na terra debaixo da sombra da árvore que ora servia de diversão ora servia para descanso.
O sagrado almoço de domingo vinha sempre acompanhado de uma belíssima macarronada com molho vermelho e farinha. O macarrão era daquele espaguete furado. Curiosa, perguntei “vó como que fura esse macarrão?” a resposta estava na ponta da língua “ foi a vó que furou, antes de vocês chegarem” Depois do almoço a rede no alpendre, como ela dizia, não parava de balançar.
Seus cabelos negros, encaracolados sempre na altura do ombro, combinavam perfeitamente com a pele morena levemente enrugada. Os vestidos sempre com estampas discretas, o chinelinho de pano se arrastava o dia todo pela casa.
Com o passar do tempo à memória não é mais a mesma, a lucidez fica comprometida. O embaralhamento, o esquecimento vão ficando cada vez mais frequente. As atitudes e gesto algumas vezes são de criança. Uma criança que está se sentindo cansada, uma criança que sente que seu dever foi brilhantemente cumprido e que o momento agora é de descanso.
Sem pedir permissão, ela se vai, deixando aqui uma dor insuportável que com o tempo se transformará em saudades, uma saudade que será eterna.
Querida avó, faz pouca horas que a senhora está descansando, mas para nós aqui o tempo parece não querer colaborar ele insiste em andar lentamente por alguns instantes parece que está parado. A saudade já dói muito e a falta que sua presença faz é inexplicável.

Mas os risos, o gosto do macarrão furadinho, o barulho do chinelinho se arrastando pelo chão ficam....Mesmo que já tenham se baixado todas as cortinas.

10.1.09

Procura-se pessoas sinceras (realmente sinceras)

Hipocrisia. Às vezes tenho a leve impressão de que todos os seres humanos são hipócritas. Uns mais, outros menos. Dizem que gostam de você e por trás dizem coisas a seu respeito que não são verdades.

Muitos julgam saber o que se passa dentro do outro, e não se dão a mínimo esforço de perguntar se realmente é verdade. Olham pra você e simplesmente se acham no direito de dizer o que você sente. E muitas vezes transformam isso em uma verdade, e não ti dão o direito de se defender e nem de dizer o que realmente está acontecendo.

Ninguém, a não você mesmo, sabe o que realmente está acontecendo por dentro. Às vezes até você se confundi e não entende o porquê de tal coisa.

Achar que pode ajudar é uma coisa, agora achar que entende mais do que você o que se passa dentro de você, não! Isso pra mim é falta de respeito.

Sei que o ser humano não é uma ilha, que foi feito e criado para viver sociedade, mas em certos momentos tenho vontade de ser uma ilha, para não precisar conviver com esse tipo de situação. Nunca estão satisfeitos com a explicação que você dá, sempre tem que ter algo mais, você sempre está escondendo alguma coisa. Por que isso? Você tem sempre a obrigação de falar tudo o que sente? Por que as pessoas querem arrancar de você aquilo que você não quer falar?É uma pena que o famoso “simancol” não vende em farmácia e o ministério de saúde não faz distribuição gratuita de tal.

É um pouco frio dizer isso, mas muitas vezes tenho a impressão de que os verbos gostar, amar, adorar, são de certa maneira superficiais. Todo mundo gosta de alguém, todo mundo ama alguém e todo mundo adora alguém, isso é fato. No entanto essas deveriam ser armas usadas para a proteção de tal objeto, melhor dizendo, proteção do próximo. Quando você gosta, ama, adora alguém é normal que você faça o possível para não deixar com que fique triste ou frustrada. O que acontece é que infelizmente esses verbos veem com a conjunção “mas” na frente. Isso distorce o real significado da palavra.

--Eu falei aquilo de você, mas eu gosto de você. Entende?

Não. Eu sinceramente não consigo entender.

Entender um simples não é muito difícil. Por trás dele sempre tem que haver um motivo, um por que, por mais tosco que seja, tem que haver.

--Vamos sair hoje?

--Não.

-- Por quê?

-- Ah, porque eu não estou com vontade.

--Mentira, conta a verdade vai!

Entender que esse tipo de atitude ti deixa triste, chateada e muitas vezes incomodada ninguém entende. É impossível entender.



Não. Eu não gosto que as pessoas tentem arrancar de mim o que não quero falar. Tudo aquilo que pode ser falado eu falo. Tem coisas que não gosto de falar e prefiro guarda-las para mim e por mais que resolvesse dizer, ninguém acreditaria. Então deixa queito.




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PS: Essa semana ganhei 2 prêmios. O prêmio "Meme" do blog "Na mira do Felipe" e o prêmio "Pinel& Juqueri" do blog da Cynthia " ;)". Muito obrigada!

5.1.09

O espetáculo vai começar...

Tudo começou quando tinha 10 anos. 4º série. Minha escola fazia todos os anos uma peça sobre o descobrimento do Brasil. Lembro que a professora começou a distribuir os papeis. E eu? Não sobrou nada para mim. Cheguei até a profº perguntei se eu não poderia participar, queria muito fazer. Lembro bem do que ela me disse “você não se encaixa em nenhum papel por enquanto” Legal né? No dia da apresentação, cheguei animada na escola, tinha a esperança de ainda conseguir participar. Todas as minhas amiguinhas estavam participando. Foi então que surge a oportunidade. Uma das garotas que faria uma índia faltou e a profº gentilmente me chamou para participar.
Continuava não me encaixando no perfil da personagem (sou loira e branquela muito diferente de uma índia), mas estava muito feliz de participar. Fiz então minha primeira peça de teatro, não havia fala e eu ficava escondida atrás de um morrinho improvisado, mas continuava feliz! Depois disso continuei fazendo pequenas aparições na escola, tudo que tinha de ser apresentado, lá estava eu!


Quando cheguei a 7º série o clássico “Romeu e Julieta” posou em minhas mãos. A história já estava em forma de teatro apenas esperando ser encenada. Juntas, eu e duas grandes amigas resolvemos encarar o desafio e fazer a peça. Começamos pela adaptação do texto, pois o texto é longo. Fizemos isso. Começamos ao mesmo tempo os ensaios e a arrumação dos figurinos, cada um trazia de casa o que tinha e se encaixava no contexto. Assistimos ao filme, para pegar os detalhes, escolhemos as músicas e produzimos o cenário. Muitos ensaios, algumas brigas, muita correia, ansiedade, nervosismos. Eis que chega o dia da apresentação. Toda a coordenação da escola estava presente, os pais dos alunos estavam presentes, os meus estavam. Minutos antes da apresentação, sentei no palco pedi proteção dos anjos respirei fundo e começamos. Nada de relaxar durante a apresentação, a correia era grande para fazer com que tudo saísse da forma que foi planejada, para que não houvesse buracos entre as cenas, para que a música não falhasse e para agradar todos os presentes. Fim de peça. Como todo pai é coruja e puxa saco do filho foram muitos aplausos, eu sinceramente não fiquei muito contente com o resultado poderíamos ter feito melhor, mas estávamos de parabéns. Não é fácil montar um clássico de Shakespeare, principalmente quando se tem 14 anos.


Cheguei ao colegial. No primeiro ano montamos uma releitura de “O auto da barca do inferno” de Gil Vicente. Dessa vez tive professor profissional de teatro, o maravilhoso Marco Brytto. O cara é fera, conseguiu fazer com que uma turma que no começo era só farra ganhasse o regional de teatro. Nos apresentamos para jurados profissionais, ouvimos criticas de profissionais, tentamos agir como profissionais. No segundo ano a mesma coisa, só que dessa vez montamos uma peça escrita pela minha professora “O ouro azul” falava sobre a importância de se economizar e cuidar da água. Apresentamos em Campinas em 3 teatros, em Americana, Bragança Paulista. A bagunça no ônibus era a melhor parte. Não chegamos a ir para as apresentações estaduais, mas tudo estava valendo. Foram varias viagens, ensaios diários e algumas vezes exaustivos, passar 10 vezes a mesma cena não é uma coisa muito bacana, entretanto necessária quando se quer chegar a algum lugar.


O teatro é superação, exaustão, repetição, improviso. Aprendi que teatro é ação e reação, que é muito importante saber improvisar. Teatro é magia e realidade junto. Teatro é a repetição de ações em busca da perfeição. Teatro é suor, sangue. Teatro é alegria, é tristeza. E principalmente teatro é paixão.
Na faculdade voltei a participar de algumas peças. Peças pequenas, rápidas, a maioria em cima de improviso o que confesso que não é meu forte. Prefiro ser ensaiada e ter tudo marcadinho.
Talento? Talvez não tenha, talvez tenha, já ouvi criticas positivas e negativas. Vontade? Isso eu tenho de sobra! Posso garantir.


Quem sabe nos encontraremos em alguma apresentação!


PS: Felipe, obrigada pelo prêmio.Meu blog agora está "Na mira do Felipe"